Ensaio sobre Hamlet Shakespeare: A reinvenção do Homem

Ensaio sobre Hamlet Shakespeare: A reinvenção do Homem
Umas das maiores peças teatrais de todos os tempos, escrita por um dos mais celebres escritores que habitou a terra: Hamlet, de Willian Shakespeare. A definição pode até ser considerada exagerada por alguns, mas se nos aprofundarmos nos conceitos impregnados na obra, a importância da mesma, se torna nítida, trazendo uma das mais coerentes releituras do homem, como um ser que possui suas fraquezas, anseios, loucuras e desejos.
O escritor preocupa-se em travar um diálogo entre o personagem central, Hamlet e sua consciência. Ao desenrolar da peça, percebe-se as reflexões filosóficas que o personagem traz, suas angustias e visões sobre o homem no mundo, e o homem pós-mundo, que trata a morte com frieza, e a encara como um ato comum, desnudo de preconceitos. Ao se realizar uma primeira leitura da obra, que é enquadrada no gênero tragédia, percebe-se que o autor coloca pitadas de ironia, criando uma sensação de humor negro, que aparece para satirizar o drama vivido pelos personagens. Para grandes escritores, essa é uma das mais importantes características que reinventa a concepção de homem.
A história contada na peça gira em torno do fantasma do pai de Hamlet, que quer vingança por ter sido assassinado pelo seu próprio irmão, que toma posse de seu trono ao desposar aquela que era a sua mulher. O fantasma aparece para Hamlet, que é incumbido da missão de vingar a morte de seu pai. Isso cria um conflito interno no personagem, que busca criar uma ponte entre o racional e a loucura, procurando resposta para tomar uma decisão sobre o ocorrido. Aos poucos, leva o personagem a reflexão,que o faz esquecer do mundo a sua volta, ligando-se apenas ao mundo frenético da sua mente.
De tal situação, eis que surge uma das frases mais citadas de todos os tempos: “to be or not to be? That’s the question”. (ser ou não ser? Eis a questão). Percebe-se que apenas nesta frase resume-se toda a força da obra: ser ou não ser, o que é ser?, e o que não é ser? E essa se torna uma das questões da vida. O ser humano está constantemente optando por ser algo, ou deixar de ser algo, e esta questão vai permear toda a sua existência. A mesma frase vai aparecer depois de muitos anos, no Manifesto Antropófago, escrito por Oswald de Andrade, que busca uma renovação da literatura brasileira, e assim como Shakespeare quer uma renovação do homem pela sua cultura.
Leia um pequeno trecho do manifesto: “Só a Antropofagia nos une. Socialmente, Economicamente, Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupi, or not tupi that is the question. Contra todas
as catequeses. E contra a mãe do Gracos. Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago”. (ANDRADE, 1982) vê-se logo que tais obras se reconhecem em sua função de recriar um homem a partir de uma realidade. Um homem novo, com uma nova visão, que dê conta de ser alguém que reflita sobre si e sobre o mundo. Nessa fase, o leitor entra em contato com um novo Hamlet que já recriou sua consciência de ser humano, e qual era o seu verdadeiro propósito.
Mas, a genialidade da obra ainda fica mais completa com o seu apelo espiritual, familiar e politico. O apelo espiritual se evidencia mais, por trazer a voz de um personagem fantasma, e por retratar a morte de nove personagens, em que a obra inicia-se com a morte do pai, e finda coma morte do filho. Nunca se viu uma obra que encarasse a morte com tanta naturalidade, questionando a condição humana, pondo em prova, se a morte pode ser melhor que a vida. O fantasma do pai cria a fantasia de outro mundo fora do real. A preocupação da peça está em demonstrar como as pessoas reagem à morte. O ato de morrer é abordado de diversas maneiras, aparecendo como solução para os problemas em um ato heroico. Uma das falas dos personagens diz o seguinte: “Não sabemos quais os sonhos que o sono da morte pode nos trazer”. Logo, quando o pai de Ophélia morre, ela e seu irmão assumem sentimentos diferentes. Ophélia lida coma insanidade, foge do mundo real, e seu irmão assume o sentimento de vingança, que também é vivido por Hamlet.
A partir dessa perspectiva, pode-se perceber como a entidade sobrenatural afeta o destino de todos os que estão envolvidos na peça, e Hamlet se livra da entidade do seu pai, quando volta de sua viagem à Dinamarca. A partir de então, ele assume os propósitos de vingança do pai, e sente-se confiante o suficiente para realizar tal ato.
Em suma, são notáveis as diversas facetas apontadas por Shakespeare na obra, e o quanto ele mexe com a consciência do ser humano, e modo como isso afeta às decisões futuras. A construção de um homem novo, que busca novas perspectivas dá a obra sua grandeza, associado o despir da morte, que se mostra nua, pequena e frágil. Os questionamentos da obra ainda são muito coerentes com a nossa sociedade, fazendo que a peça se tornasse imortal, levando a inúmeras releituras e novas interpretações. A partir daí, é perceptível o que torna a obra tão magnífica, e a força que a mesma carrega consigo e nas suas entrelinhas.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Oswald. O Manifesto Antropófago 1922, disponível em: www.infoescola.com.br/manifestoantropófago
Data de acesso: 26/03/2014.

SHAKESPEARE, Willian, Hamlet, disponível em: WWW.dominiopublico.com.br/Hamlet
Data de acesso: 26/03/2

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