Análise do Conto Willian Wilson, de Edgar Allan Poe




            Edgar Allan Poe foi genial ao colocar o conto na forma de um narrador-
-autor da própria história, que, segundo sua visão, descreve os acontecimentos do conto. Essa forma de escrita proporciona ao leitor ter a visão que o personagem principal teve dos acontecimentos, podendo crer no que foi posto, ou ainda criar uma nova visão, partindo de outras perspectivas analíticas.

            De um modo geral, todos os contos produzidos por Edgar Allan Poe estão intrínsecos com a psique humana. O lado do subconsciente aflora de formas diferentes quando as pessoas são postas a certas experiências durante a vida. Não apenas no conto Willian Wilson, mas também em outros contos é possível notar a tendência do escritor em valorizar aquilo que se esconde nas profundezas da mente humana. Muito do que Poe escreveu futuramente serviu para estudos na área da psicologia.

Quando o autor se põe a colocar duas pessoas totalmente iguais, mas uma odeia a outra justamente por se parecerem tanto, logo se pode fazer uma ponta com os estudos de Freud.
Segundo as descrições do autor-narrador, o personagem Willian Wilson era um homem que tinha uma vida desregrada, aquele que falava mais alto, e o seu outro eu era uma pessoa sem força na voz, mas que dizia não às aventuras de Willian Wilson. A imagem acima, que retrata o Id, Ego e o Superego, é perfeita para a descrição proposta por Edgar Allan Poe. O Ego somos nós, ou seja, nossa parte consciente da mente e nossas ações, porém nosso subconsciente é composto pelo Id, que representaria o Willian Wilson narrador, e o Superego seria o outro Willian Wilson, descrito como um sósia que tentava frear as ações do Id. O ser humano nada mais é que um resultado entre as ações desses dois sistemas propostos por Freud. Logo, Willian Wilson iria odiar a sua parte que tentava frear as suas ações.
Tal proposta interpretativa é confirmada no final da narrativa quando finalmente o personagem-narrador consegue matar o seu outro eu, findando o conto com as seguintes palavras: “Venceste, e me rendo. E contudo, daqui por diante também estás morto. Morto para o mundo, para o Céu, para a Esperança. Em mim existias, e, em minha morte, vê por imagem, que é a tua própria, quão absolutamente assinaste a ti mesmo”. Desse modo, fica claro que se tratava de um mesmo ser, mas que ambos constituíam um ser apenas.
O conto Willian Wilson pode ser comparado com a obra do cinema intitulada Cisne Negro.
A personagem do filme é tímida, sem muita expressão, voz, assim como o rival descrito por Willian Wilson, e que precisa descobrir o seu lado negro e mais obscuro para conseguir interpretar o cisne negro. Para isso, ela precisou destruir o seu lado bom: ela mata o cisne branco (sua personalidade dominante) para deixar o seu lado negro aflorar, porém ela percebe que, matando o lado bom, também matava a si mesma.

Diferentemente do filme, porém, o lado obscuro de William Wilson é o seu lado dominante, e o seu Superego é frágil, mas que o adverte e o controla quando o mesmo está em situações polêmicas ou que atentam contra a ética e moral.
Ao iniciar o conto, o personagem narrador tem plena consciência do quanto vil ele é, pois diz que “a página imaculada não necessita ser manchada com o seu verdadeiro nome”, e o mesmo tem a plena certeza dos anos miseráveis que viveu, tendo se deleitado com todo tipo de prazer e orgia. Edgar Allan Poe dá vida ao subconsciente do seu personagem, que aparentemente também não percebe que aquele ser era parte do seu eu e é denominado como um “sósia”. Mesmo com as coincidências da aparência física, idade, nome, o personagem prefere se isolar em sua única verdade.
As vezes em que a sua consciência aparece são os chamados do seu outro eu para a realidade da vida, como no momento em que ele estava embriagado em um quarto com seus colegas e no momento em que tentava extorquir, através de jogos de cartas, seu colega afortunado.
Além da temática central, existem outros elementos que devem ter sua atenção especial, como o formato cronológico da narrativa, sendo que o personagem se desenvolve desde a infância até a sua vida adulta, mostrando os momentos de encontro e afastamento de si com o seu outro eu. Poe optou por narrar o conto de forma linear para criar uma atmosfera de tensão ao longo da narrativa, envolvendo o leitor de tal modo que o mesmo se surpreende tanto quanto o narrador-personagem no desfecho da história.
Pode-se dizer, em resumo, que o conto relata uma grande hipérbole psicológica, uma vez que o Id e o Superego do narrador-personagem eram tão fortes e contrastantes que chegavam a assumir uma forma física própria, embora idêntica. Assim como vemos em vários desenhos animados o “anjinho” e o “diabinho” nos ombros da pessoa (que seria o Ego, a parte do ser humano que conhecemos e que somos), Edgar Allan Poe construiu em sua fantástica obra uma ilustração mais sombria e exagerada dessa personalidade dicotômica que constitui cada ser humano. E, no final das contas, o “bem” não triunfou sobre o “mal”: eles se anularam, pois um completava o outro.
REFERÊNCIAS

Cisne Negro. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Cisne_Negro>. Acesso em 09 jul. 2014.


Id, Ego e Superego: Psicanálise de Freud. Disponível em: <http://www.
psicoloucos.com/Psicanalise/id-ego-e-superego.html>. Acesso em 09 jul. 2014.


POE, Edgar Allan. Contos de imaginação e mistério. São Paulo: Tordesilhas, 2012.

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